Apesar de serem uma experiência universal, as cócegas continuam um mistério para a neurociência. Ao contrário da dor, da coceira e do toque, a gargalese (o termo científico) é pouco estudada. Sua função ainda é um enigma.
Até os gênios Sócrates, Aristóteles e Charles Darwin teorizaram sobre cócegas. Mas, séculos depois, o tema parece menor para a ciência.
“A compreensão científica da gargalese é extremamente escassa. Hoje, não sabemos por que certas áreas do corpo sentem mais cócegas do que outras e por que algumas pessoas gostam de ser tocadas, enquanto outras não gostam, mas ainda assim caem na gargalhada. Também não compreendemos completamente por que não conseguimos fazer cócegas em nós mesmos e por que algumas pessoas sentem muitas cócegas, enquanto outras não reagem de forma alguma. Além disso, a função primária das cócegas em humanos, assim como em outras espécies, continua sendo um grande enigma”, contou Konstantina Kilteni, neurocientista sueca autora de uma nova pesquisa que aponta caminhos para que as cócegas possam receber a merecida atenção científica.
Por que esse conhecimento aparentemente trivial se faz necessário? Compreender as cócegas não é apenas curiosidade científica, mas pode revelar informações preciosas sobre autismo, esquizofrenia, desenvolvimento infantil e até mesmo ajudar a projetar robôs com melhor interação com humanos, diz Konstantina.
O estudo, publicado em maio na revista “Science Advances”, aponta que parte da inércia científica advém de definições básicas. Os pesquisadores não conseguem chegar a um consenso sobre o que as cócegas realmente significam, levando a resultados de estudos extremamente contraditórios.
Alguns cientistas estudam sensações leves e delicadas que fazem você querer coçar, como quando um inseto rasteja no seu braço. Outros se concentram em cutucadas mais fortes que fazem você rir e se contorcer. Essas reações criam respostas completamente diferentes, mas ambas são chamadas de “cócegas”.
O toque leve cria o que os pesquisadores chamam de cnisemese — basicamente uma coceira em movimento que faz você se afastar ou coçar. Mas o tipo de cócega que causa riso, ao qual o termo gargalese se refere, requer pressão rápida, forte e repetitiva em áreas específicas, como axilas, laterais do corpo ou solas dos pés.
Assim, estudos produziram resultados opostos porque os pesquisadores nem sequer estavam estudando o mesmo fenômeno. Ajustar esses esforços pode ser o início de uma abordagem mais ampla e significativa do tema, propõe a autora.
Por Extra