“Ler é viajar sem precisar sair do lugar. Cada livro que eu pego é como um bilhete para outro mundo, onde eu conheço personagens incríveis, vivo aventuras malucas e aprendo coisas que eu nem imaginava.” É assim que Ethan Normando, de apenas 6 anos, descreve sua paixão pela leitura. Pode até parecer inacreditável, mas o pequeno leitor já leu mais de 500 livros, segundo estimativa feita por seus pais.
Ethan, que tem diagnóstico de altas habilidades, estuda na Escola Municipal Padre Peregrino Carneiro de Lima, no bairro Tucumã, em Rio Branco, se tornou um verdadeiro fenômeno da leitura e do conhecimento e dá palestras em escolas particulares.
Em entrevista À GAZETA, ele e seus pais compartilharam um pouco sobre a rotina, marcada por livros e estímulos à inteligência. A paixão começou cedo: com apenas 2 anos e 8 meses, surpreendeu os pais ao ler, sozinho, o nome de uma loja, revelando uma habilidade que até então não haviam percebido.
“Estávamos ando em frente a uma loja e ele leu o nome todinho. Acreditamos que ele já sabia ler antes, mas foi nesse dia que descobrimos. Fomos para casa, mostramos outras palavras para ele, e ele lia normalmente, como a gente”, conta Rafaelly Normando, mãe de Ethan.

Mudança na rotina
Desde então, a rotina da família se transformou. Rafaelly e Romilson Normando, consultores financeiros de 42 e 43 anos, respectivamente, aram a adaptar seus horários para apoiar o filho. Após perceberem suas habilidades, os estímulos foram intensificados.
“Tivemos que adaptar toda a nossa rotina para dar e para ele. Levamos o trabalho para casa e começamos a investir nisso. Na verdade, quando ele estava na barriga, já líamos para ele. Quando nasceu, continuamos lendo. Uma vez, vimos um livro chamado ‘O Menino e o Foguete’ e fizemos um foguete abajur gigante. Ele adorou, e a partir daí tudo foi se expandindo”, explica Romilson.
Apoio especializado
O desenvolvimento acelerado do menino levou a família a procurar apoio especializado. Após enfrentar uma fila de espera de dois anos, Ethan conseguiu uma vaga no Núcleo de Atividades de Altas Habilidades e Superdotação (NAAH/S), ligado à Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esportes do Acre (SEE).
Foi lá que teve o diagnóstico de altas habilidades nas áreas linguística e acadêmica, ando a receber acompanhamento contínuo. Os pais destacam o papel do núcleo não apenas no desenvolvimento do filho, mas no e emocional à família.
“Quando percebemos as altas habilidades, no início, não sabíamos como fazer. Ele perguntava muito, questionava muito. Teve dias que eu chorava porque não sabia como proceder. Foi desafiador. Quando colocamos ele no NAAH/S, foi um alívio. Eles cuidam não só dos filhos, mas também dos pais. Hoje já sabemos como proceder, temos mais paciência, buscamos as respostas corretas. Mas não foi fácil”, comenta a mãe.
NAAH/S e o desenvolvimento de crianças com altas habilidades
Implantado em 2007, o Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação (NAAH/S) atua na identificação e no acompanhamento de estudantes com superdotação no Acre. Desde 2019, o núcleo funciona em prédio próprio, em Rio Branco, com estrutura financiada por recursos do Fundeb e emendas parlamentares. Também há um polo em Cruzeiro do Sul.
O núcleo oferece atividades de enriquecimento curricular, orientação às famílias e formação de profissionais da educação. De 2007 ao primeiro semestre de 2023, mais de 750 alunos foram atendidos, sendo 162 com parecer pedagógico de superdotação. Atualmente, cerca de 200 estudantes recebem acompanhamento.
Embora se estime que 5% dos alunos da educação básica tenham perfil de altas habilidades, o número oficialmente identificado ainda é muito baixo. O NAAH/S atende até o ensino médio e fica localizado na Estrada Albert Torres, 825 – Conjunto Mariana, em Rio Branco.

Além da leitura
Ethan impressiona não apenas pela leitura, chegando a concluir livros de mais de 200 páginas em duas horas, mas também pelo interesse em idiomas. Sem nunca ter tido aulas formais, ele já possui vocabulário e pronúncia em inglês, adquiridos por meio de músicas, vídeos e o uso do aplicativo Duolingo.
“Ele gostava de Imagine Dragons. Com três aninhos pediu pra Alexa tocar Imagine Dragons. Eu falei: ‘Você tem que escutar Galinha Pintadinha, meu amor’. Ele ou um ano sem escutar o que gostava. Depois que os professores do NAAH/S explicaram que não havia problema, desde que fosse acompanhado, liberamos. Hoje o repertório dele é quase o de um adolescente”, brinca a mãe.